15 de dez. de 2008

falta pouco

no caminho certo 
caminho

16 de nov. de 2008

em construção

Uma carta para a semana. 
Diga-me se as próximas virão 
Com tempestades ou dias claros. 
Pedi aos deuses que mandassem minha própria chuva. 
Passei tanto tempo construindo muros que agora derrubo 
Para erguer um lugar seguro.
Sem muros. 
Fora de perigo. 

sem espelho para o coração

Hoje li algo interessante: “quando eu olhar no espelho, leia-se: em construção.” 
Na verdade, do espelho não verei muita coisa de minha obra. Preciso de um espelho que vê por dentro. Além dos órgãos. Preciso de uma visão mais profunda. Translúcida. Porque enxergo de olhos fechados agora. Sinto com mãos estáticas. Avalio amizades, trabalho, família. Só não consigo avaliar amor. Ele não é dado a análises. E muito menos curte dar as caras. Perdão, eu errei. Ele tem sim várias caras. Quem não se mostra é o coração. Medo de seqüestro, talvez. Eu acho tudo isso uma baboseira. Coração se se mostrasse, daria apenas a certeza de que existe. E roubar para quê se tenho um igualzinho batendo no peito? E bateria mais forte se enxergasse esse outro que nunca se mostra. 
Bate sozinho então. 

porte de arma

A memória é uma arma branca. De tão branca, apaga todo vestígio de paz. Sempre afiada, à qualquer palavra corta o fio que desenrola o carretel e me enforca em lembranças.
Ainda tem um poder de arremessar-me aos pensamentos de futuros que não existem. Ou só existem na imaginação. Tempos que pertencem só a mim, dos quais não faço parte.
Um bar, um filme, uma palavra. Tudo suja minha lembrança de um futuro branco. Sem meu nome. Sem minha imagem. Sem nada e com tudo que me tira a paz.

27 de out. de 2008

sem troco

troco eufemismos por pleonasmos.
se ficou por dizer, fique com o troco.
quero é andar pra frente,
subir pra cima 
do mundo.
do gosto da simplicidade 
do pensamento
sinto a profundidade do meu sentimento;
"e rir meu riso" como o poeta.
subirei ao raso para não me afogar
em lágrimas
subirei bem alto
onde o sol me seca.

8 de set. de 2008

não verão

O verão passou 
A primavera ainda não floresceu 
As estações em descompasso 
Meus sentimentos 
Eu passo 
A chance de um novo começo 
Pelos invernos do meu
Compasso 
Quero adormecer

17 de ago. de 2008

um mar

A chuva está tentando levar meu barco embora.
Tem muito mar para conhecer, diz ela.
Não sabe ela que só tem um mar que eu quero.

Um pedaço de uma palavra que quero viver.

12 de ago. de 2008

frio

sentir mais
sentimento
senti medo
sente?
nada vindo daí
o cimento sinto
frio sentimento

é pouco

É sempre assim.
As demonstrações ficam para depois.
Pára e depois?
É tarde.
Melhor dormir para não acordar.
Por enquanto é sempre assim.

14 de jul. de 2008

branco

Plante uma árvore, tenha um filho, faça um livro. Necessariamente nessa ordem, por favor. Foram 41 anos esperando. Não o filho nem a árvore, as páginas da criatividade. Fiz o filho, mas não o tenho. Tenho livros. Comprei, obviamente nem os li.
Pai médico e poeta, mãe professora de português, russo e alemão. Irmãos e irmãs médicos, advogados e poetas. Eu ali no meio, nascido e esquecido entre os três mais velhos e os três mais novos, no meio das letras pomposas de suas proficiências tolas. É difícil crescer esmagado pela vanguarda dos primeiros e pelo saudosismo fértil dos últimos.
Mas o potencial autor vai. Senta-se à mesa, conversa consigo e faz toda a encenação dramática. Xícara de café meio quente meio frio, cigarro no cinzeiro – apagado porque não fumo –, mãos pelos cabelos e expressão de tudo-está-prestes-a-sair-da-mente.
Devia ter lido mais, dizem as mais ágeis mentes. Se em pensamento a primeira pessoa mistura-se à terceira, serei eu a escrever algo que não sobre mim já é?
Escritores têm gatos. Fazem parte da encenação. Mas e a alergia? Esqueça. Mãos à velha Remington, a de teclas e não balas – cenografia digna de prêmio. Ela nem funciona mais, não troco meu velho Pentium por peça de museu qualquer. Tudo encenação. Inspire-se. Sobre quem? O que? Quando e onde? Nada.
Ao olhar para a tela em branco, o escritor se deu conta de que não tinha mais nada a dizer. Eu já disse tudo que ele poderia querer dizer um dia.
Deve ser o tal do ócio criativo. Alguém já escreveu sobre isso e não li.
Vai ver minha falta de proficiência tola é culpa da árvore que ainda não plantei.
É muito difícil estar no meio disso, de todos eles seis.
Um romance trágico familiar. É disso que um autor precisa.
A árvore fica para depois.

13 de jul. de 2008

chama

quanto vale a chama do último fósforo da caixinha?
depende se você, só, o acende ou se, juntos, começam uma fogueira.

9 de jul. de 2008

C12H22O11

10 bolinhas de açúcar toda manhã.
Receita para salgar a alma.

certeza?

Eu tinha certeza que achava muita coisa.
Mas eu só achava que tinha certeza.

Das coisas que eu achava,
Eram tudo, menos certeza.

19 de jun. de 2008

um chêro

Banho de mar, sal grosso para alma.
Tudo bem lavado em três dias.
Alma translúcida
Algumas manchas do passado.

4 de jun. de 2008

nova plataforma

a 2061km
um poço descoberto
de rubro espesso líquido
estaria rico eu se transbordasse
entranhado no seio da terra d'alma
afortunado de esperanças
descobrindo-me
dono de uma herança desavisada

15 de abr. de 2008

medidas

E se vierem medir a minha dor,
você sabe que medida usar? - perguntarei eu.

11 de abr. de 2008

larguei a direção

Falo demais. Quero tudo acontecendo.
Meu ritmo atropela. Mas quem sai ferido sou eu.
Deixei a melhor companhia pra trás.
Combustível não me faltou. Faltaram surpresas pelo caminho.
Dou dois toques na buzina quando vou embora.
Mas não como quem diz “até logo”.
Era raiva de mim descontada ali.
Não sei andar na direção certa quando a via dupla congestiona.
Quem mandou falar demais e dirigir ao mesmo tempo!

29 de mar. de 2008

joão e maria

Maria namorava João. Que gostava de Maria. Que viveu feliz com João. Até Maria terminar com João. Que não queria terminar com Maria. Que foi paquerada. Que ficou em dúvida se João gostava de Maria ou da monotonia. João chora até hoje a perda da monotonia e da Maria. Que foram sinceras com João. Que não entendeu nada da vida em que Maria queria nascer. E da monótona que a outra queria levar. Que então foi viver com outros Joãos e Marias.

tesconjuro!

eu vou
tu foste
ele foi
nós fogueteamos
vozes
prometeis

6 de mar. de 2008

oras horas

Tudo se resume à pressa. Sempre fui apressado. Quero isso e quero agora. Preciso alcançar e tem que ser pra já.
Minha aflição se resume à pressa. Porque não sei mais esperar. Basta de “tudo tem a sua hora”. Cansei de verdade. E que horas serão quando chegar a minha hora? Tarde de mais, imagino eu. Morreu, dirão.
A pressa me diz várias coisas. “demita-se” é o discurso recorrente do momento.
E meu relógio está quebrado. Quando o ponteiro está quase alcançando a minha hora, ele pára. Ou pior, ele volta. Uma força magnética o puxa, cessa.
Sinto falta da palavra extraordinário neste roteiro. Sinto falta de um roteiro escrito por mim. Não bem um roteiro, porque este prevê a encenação. Quero mais um diário de bordo, este sim guarda o que passou. Quero agora.
Cansei de pílulas, de doses homeopáticas, de paliativos que querem me acalmar ou me satisfazer com ações dignas. Não quero ações dignas, quero extraordinárias.
Quando vai chegar a minha hora? Não a hora final, a que dará um fim a minha existência.

Quero a hora de amar perdidamente viver.

11 de fev. de 2008

bem-vindo ao muro de lamentações

Não sou formado em psicologia. Nunca quis ser a esponja da turma. Porém, alguma energia me conduz aos mais precisados de um ouvido atento. E faço isso de bom grado.
Nunca quis ser a esponja, mas aquele orgulho de ser confiável contrapõe o lado chato de ser a tal esponja. Gosto de poder dar conselhos. De ser o portador de segredos.
Só que tem uma hora que cansa! Todo mundo tem problema. Todo mundo tem decepções amorosas, insatisfações profissionais, desentendimentos familiares. E quando eu digo todo mundo, EU estou incluído nesse mundo. Ora bolas, e cá estou eu em alguma espécie de bolha ou diferente planeta imune às desolações?
Basta olhar aí na postagem abaixo.Tá vendo: problemas familiares e profissionais.
Agora me pergunta se algum amigo sabe que isso está ocorrendo. Saber sabe, mas pergunta se algum parou para sentar e ouvir. Fico horas e horas ouvindo-os reclamando da vida, da dificuldade de agir, do sol que está queimando a pele e, quando abro a boca para poder cobrar a minha parcela de atenção em minutos, o sinal toca. O recreio acabou. "Nossa! Brigadão pelas palavras, por me ouvir, ajudou muito."
Mas e eu? Era a minha vez. E chega o próximo recreio e vêm todos os coleguinhas cabisbaixos soltarem as línguas. E eu absorvendo e tentando ajudar.
Como odeio cobranças, quieto eu fico, decepcionando-me com pessoas, com amigos. A vida ensina que não existem pessoas perfeitas, que você aprende a conviver e amar as pessoas com seus defeitos e qualidades sempre mesclados e alternando-se. Eu sei. Amo meus amigos. E por amá-los sinto-me no direito de mandar todo mundo à merda porque quero falar, porque quero atenção. Eles entenderiam que não se trata de uma atitude mimada de um adulto chorão. Bom, alguns dois ou três entenderiam. Outros ainda não sei.
Ai! Chega dessa reclamação. Esse é o problema: sinto vergonha de reclamar, de ser infeliz. Vergonha de ter essa postura de vida. Vai ver por isso meus amigos nunca me escutam, porque não brigo para reclamar. Brigo comigo mesmo para achar graça em tudo. Não que eu queria parecer alegre e feliz o tempo todo. Fodam-se as aparências. Sou mau-humorado quando quero, fecho a cara quando quero. Resumindo: sou até bem azedo. Mas tento resolver tudo dentro aqui antes de sair de casa. Não resolvo porra nenhuma. É quando a reclamação é reprimida por uma risada. Isso pode ajudar a longo prazo. Já que para medidas instanâneas de alívio, com meus amigos não posso contar por mais que alguns segundos de lamúria.
Isso não vai mudar. Eu vou. O muro de lamentações está desabando.
Melhor distribuir capacetes.

construindo vulcões passo-a-passo

Briguei com minha mãe hoje. Um desentendimento que teve a (falha) tecnologia como causa. Sinto-me um barril de pólvora prestes a implodir. Queimar por dentro. Quem está de fora sentirá apenas os tremores. Já sente.
Meus segredos abalam meu controle. Controle que não tenho. Falta de controle que me abala.
Briguei com minha mãe hoje. Ela não me conhece por inteiro. Esse é o desentendimento. Ela não sabe. A confusão fica aqui dentro.
Meus tremores/temores.
O trabalho é outro ponto sísmico. Não largo por medo. Por planos. Por sonhos.
Medo de perder. Planos de mudar. Sonhos ...
Agora pegue tudo: segredos, trabalho, desentendimento e chacoalha.
Não é pólvora. São lágrimas secas.
Nada muda. Tudo pára. Quero andar mas não sei praonde.
Está tudo se acumulando em cima do barril. Os vulcões são "construídos" assim? Devem ser.
E quando explodem aliviam a garganta, mas tudo se perde ao redor, até pessoas.

23 de jan. de 2008

mano velho

duas últimas horas do entardecer,
as mais longas e ansiosas horas dos últimos tempos.
e eu me perco,
o tempo não.
ele fica lá sentado, olhando, sempre querendo brincar.
e pensar que já fui amigo do tempo.
mas como na Terra do Nunca, ele passa
só para quem cresce e se esquece como ser criança.
eu, neste exato momento do meu tempo.

19 de jan. de 2008

em partes

Nome duplo. Apelido. Diminutivo. Tenho 1,90m. Não gosto da minha cidade. Não consigo escolher entre montanha e praia. Sou de gêmeos. Sincronismo me arrepia. Amo azul-petróleo. O número 5. Sol de inverno. Sou fechado. Às vezes não consigo falar tudo que sinto. Às vezes falo demais. Gosto quando me ouvem. E quando me perguntam. Adoro ouvir também. Tem horas que me empolgo demais. Acredito nas pessoas. Algumas energias me sugam. Gosto de esoterismo. Tenho medo da dor. Tenho 4 tatuagens. Não sei o que tatuar nas costas. Choro em filmes. Choro com músicas. Não choro em público. Não mantenho contato com meus ex. Só o primeiro. Gosto de pontos finais. Adoro falar gérberas. Bebo muita caipirinha. Amo vinho. Chocolate. Cachecol. Não sei responder perguntas à queima-roupa. Detesto arrogância. Adoro sutilezas. Prefiro cartões a presentes. Queria ter dinheiro para me vestir melhor. Faço yoga. Mais natação ou musculação? Tenho vergonha de ir à praia. Não tenho disciplina. Detesto rotina. Sou azedo, às vezes. Sou muito otimista. Tento ser. Gosto de The Corrs. Fico aflito se sozinho em espaços grandes e vazios. Quero morar na Europa. Detesto meu nariz. Gosto do meu sorriso. Sonho morar em um loft. Quero um carro. Eu namoro. Tenho medo de ser largado. Sofro com (im)pressões. Amo. Acredito. Tenho preguiça de discutir relação. Já chorei na frente de meus pais. Tinha o cabelo bom, liso e loiro. Quero ser um profissional melhor. A publicidade me irrita, às vezes. Quero tirar fotos. Produzir um videoclipe. Ser ator. Quero ganhar na mega sena, mas não jogo. Odeio futebol. Faria vôlei. Odeio cerveja. Tenho alguns melhores amigos. Outros amigos. E colegas aos montes. Não gosto que tirem conclusões a meu respeito. Hoje prefiro quadrado a círculo. Amanhã, não sei. Sinto inveja, às vezes. É ruim. Sinto muita raiva e rancor. Isso é pior. Sou alegre. Gosto da Andréia Beltrão. Da J-Lo. Do Brilho Eterno. De sorrisos. Não gosto de ninguém agindo como eu. Estou com sono. Estou sempre com sono. Quero tomar vitaminas. Sou bom em muitas coisas. Preciso ser excelente em uma só. Cobro-me muito. Pressiono. Faço listas. Desconexas. Como meus pensamentos que voam de lá pra cá sem parar. Sinapses intermitentes. Ninguém entende. Nem eu. Mas coloquei pra fora alguém que ando guardando aqui, muito dentro. Está mofando. Já era hora.