16 de nov. de 2008

em construção

Uma carta para a semana. 
Diga-me se as próximas virão 
Com tempestades ou dias claros. 
Pedi aos deuses que mandassem minha própria chuva. 
Passei tanto tempo construindo muros que agora derrubo 
Para erguer um lugar seguro.
Sem muros. 
Fora de perigo. 

sem espelho para o coração

Hoje li algo interessante: “quando eu olhar no espelho, leia-se: em construção.” 
Na verdade, do espelho não verei muita coisa de minha obra. Preciso de um espelho que vê por dentro. Além dos órgãos. Preciso de uma visão mais profunda. Translúcida. Porque enxergo de olhos fechados agora. Sinto com mãos estáticas. Avalio amizades, trabalho, família. Só não consigo avaliar amor. Ele não é dado a análises. E muito menos curte dar as caras. Perdão, eu errei. Ele tem sim várias caras. Quem não se mostra é o coração. Medo de seqüestro, talvez. Eu acho tudo isso uma baboseira. Coração se se mostrasse, daria apenas a certeza de que existe. E roubar para quê se tenho um igualzinho batendo no peito? E bateria mais forte se enxergasse esse outro que nunca se mostra. 
Bate sozinho então. 

porte de arma

A memória é uma arma branca. De tão branca, apaga todo vestígio de paz. Sempre afiada, à qualquer palavra corta o fio que desenrola o carretel e me enforca em lembranças.
Ainda tem um poder de arremessar-me aos pensamentos de futuros que não existem. Ou só existem na imaginação. Tempos que pertencem só a mim, dos quais não faço parte.
Um bar, um filme, uma palavra. Tudo suja minha lembrança de um futuro branco. Sem meu nome. Sem minha imagem. Sem nada e com tudo que me tira a paz.